A revista de estudos psicológicos de Kardec - Revue Spirite
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Recordo que quando estava no Curso Mediúnico, na Casa
Espírita,tinha uma amiga muito inteligente e estudiosa, e sempre que havia
alguma duvida a qual não se esclarecia plenamente ela dizia:
-Vou esclarecer isso nem que tenha de ler a “Revue Spirite”
inteirinha !
inteirinha !
Nós sempre riamos muito ante seu perfeccionismo ( afinal a revista é com posta por12 volumes) e tudo acabava
sendo muito proveitoso.
O tempo passou, e as obras básicas foram e são ainda fundamentais para o
estudo da Doutrina dos Espíritos. Poder ler a Revue Spirité fundamenta ainda
mais nosso conhecimento, nos colocando
em contato com todas as pesquisas feitas por Kardec.
A Revista Espírita,é composta de 12 volumes, referentes aos anos de
1858 a 1869.
Nesta Revista, Kardec explicava os fatos que aconteciam na época à luz
da Doutrina Espírita, escrevia artigos, refutava os detratores do Espiritismo,
mensagens, enfim é um manancial de informações para o estudante do Espiritismo.A coleção da Revista Espírita é a mais prodigiosa fonte de informações
sobre o Espiritismo e de instruções doutrinárias.
Allan Kardec a indica, no capítulo 3º de O livro dos Médiuns, como obra
indispensável para o estudo da Doutrina. Aconselha mesmo a seguinte ordem para
esse estudo:
O que é o Espiritismo; O Livro dos Espíritos; O Livro dos Médiuns; A Revista Espírita.
Considera o primeiro livro indicado como de simples introdução, os dois
seguintes como fundamentais e a Revista como obra complementar, no sentido exato
da palavra, ou seja, destinada a completar o ensino básico de O Livro dos
Espíritos e de O Livro dos Médiuns.
Eis como ele se refere à revista Espírita, no trecho referido:
- "Variada coletânea de fatos, de explicações teóricas e de
trechos destacados que completam a exposição das duas obras precedentes, e que
representa de alguma maneira a sua aplicação. Sua leitura pode ser feita ao
mesmo tempo que a daquelas obras, mas será mais proveitosa e sobretudo mais
compreensível após a leitura do Livro dos Espíritos".
Esta expressão de Kardec : “e
que representa de alguma maneira a sua aplicação” dá à Revista Espírita uma posição excepcional no conjunto da
Codificação, a de verdadeiro documentário, com um sentido ainda mais
significativo e valioso que é o de relatório científico e histórico. Aliás, o próprio Kardec escreveria mais tarde,
como se pode ler em Obras Póstumas, no capítulo X da Constituição do Espiritismo:
- "...A Revista foi até agora, e não podia deixar de ser, uma obra
pessoal, visto que fazia parte de nossas obras doutrinárias, constituindo os
Anais do Espiritismo.
Por seu intermédio é que todos os princípios novos foram elaborados e
entregues ao estudo. Era pois necessário conservar o seu caráter individual,
para que se estabelecesse a unidade".
O Codificador, portanto, é o primeiro a mostrar a importância da
Revista Espírita no conjunto da Codificação. Até agora, entretanto, essa obra era simples
raridade bibliográfica, reservada ao conhecimento de alguns privilegiados que a
possuíam no original francês.E é inacreditável que no Brasil, onde o Espiritismo encontrou por assim dizer o clima espiritual mais apropriado ao seu
desenvolvimento, só agora a Revista Espírita seja colocada ao alcance do
público, em tradução para a nossa língua.
Kardec revela, como vimos, que a
Revista foi o seu mais importante instrumento de pesquisa, verdadeira sonda
para a captação das reações do público, ao mesmo tempo que instrumento de
divulgação e defesa da Doutrina. Mais do que isso, porém, constitui- se numa
espécie de laboratório em que as manifestações mediúnicas, colhidas por todo o
mundo, eram examinadas à luz dos princípios de O Livro dos Espíritos e
controladas pelas experiências da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e
pelas novas manifestações espirituais recebidas.
É nas suas páginas que os atuais estudiosos da fenomenologia espírita
encontrarão os questões surgidas no meio espírita, a respeito de aspectos e
pontos da Doutrina, serão elucidados pelo estudo atencioso do gigantesco acervo
desta coleção.
Ocorrências que hoje parecem novas e aturdem alguns praticantes e
estudiosos do Espiritismo tem aqui os seus precedentes registrados, com as
soluções já então oferecidas pelo admirável bom senso de Kardec , aliado às
instruções constantes que recebia de seus guias espirituais. Por isso podemos
afirmar que a publicação desta coleção marca uma nova era do Espiritismo no
Brasil e em todo o continente. Já não é possível a um espírita estudioso
prescindir da leitura e do exame dos doze volumes desta obra.
Allan Kardec, durante onze anos e quatro meses de trabalho intensivo,
ofereceu- nos, ao vivo, toda a História do Espiritismo, no processo de seu
desenvolvimento e sua propagação no século dezenove. Podemos acompanhar nestas
páginas, passo a passo, o esforço ao mesmo tempo grandioso e minucioso de
Kardec na construção metódica da Doutrina e na estruturação do movimento
espírita.
A História do Espiritismo se nos apresenta, assim,como uma forma de
vivência que se auto fixou na escrita. Podemos senti- la e revivê- la no
registro preciso das reuniões, das pesquisas, das comunicações espirituais e
dos trabalhos vários da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, dos grupos
familiares e dos centros Espíritas, bem como das Sociedades estrangeiras a ela
ligadas. Nada se oculta ao leitor. Os problemas, as preocupações de Kardec ,
suas lutas dentro e fora do meio espírita, suas vitórias tranqüilas, sua
resistência à calúnia, à mentira, à difamação, sua fé inabalável, tudo isso
palpita nestas páginas e nos dá a impressão de vivermos ao lado do Codificador,
na sua época.
Numerosas questões apenas afloradas nos livros da Codificação, que não
podiam abranger tudo nem tudo esmiuçar, são amplamente tratadas na Revista, com
todos os seus pormenores, e exaustivamente analisadas.
Problemas como os referentes à mediunidade curadora em seus vários
aspectos; aos casos de obsessão e possessão; ao desenvolvimento mediúnico; aos
métodos de trabalho prático e teórico; à legitimidade das comunicações e à
prevenção das mistificações (que não são um problema espírita das atividades
humanas na Terra); das vidas sucessivas e das formas de reencarnação consciente
e inconsciente, neste e em outros mundos; da existência de espíritos não-
humanos (que tem servido de arma para ataques de espiritualistas diversos
contra o Espiritismo, simplesmente por desconhecerem a posição doutrinária no
assunto) são todos esclarecidos de maneira viva na Revista, ou seja, através de
exemplos e comunicações a respeito, além das análises de Kardec . Veja- se, no
tocante a esse último problema, as comunicações de Espíritos que se apresentam como
Gênio das Flores, Anjo das Crianças, os chamados elementares da Teosofia e do
ocultismo.Capítulo dos mais importantes e estreitamento ligado às pesquisas
parapsicológicas atuais é o das manifestações de pessoas vivas. Esse capítulo
se estende por toda a coleção através dos relatos de fatos espontâneos e
principalmente dos relatórios de pesquisas. Além dos relatórios há o registro
ao vivo das sessões da Sociedade em que se faziam evocações experimentais nesse
campo. Registros minuciosos, com todas as perguntas e respostas do diálogo
entre Kardec e o Espírito manifestante e com todas as informações necessárias
ao esclarecimento do assunto.
A questão do animismo, sempre levantada contra o Espiritismo, apesar
das refutações magistrais e clássicas de Bozzano e Aksakof, foi assim resolvida
em definitivo por Kardec , muito antes do trabalho desses cientistas, e
resolvida de maneira científica, através de trabalhos experimentais. É assim
que não só o animismo, mas também os problemas do inconsciente, do automatismo
psíquico, da escrita automática, das funções psi em todas as suas modalidades atuais e em outras ainda nem afloradas,
do magnetismo e do hipnotismo, das relações psicossomáticas e outras mais,
todos esses problemas são enfrentados de maneira científica nestas páginas e
levados à devida solução.
Os adversários honestos do Espiritismo encontram nesta coleção a
possibilidade de
conhecer amplamente a questão espírita e temos a certeza de que muitos
deles, após a leitura atenta destes volumes, poderão chegar às conclusões
finais de Cesare Lombroso e Charles Richet, rendendo homenagem ao bom senso e
ao critério científico de Kardec. Quanto aos adversários sistemáticos,
sectários ou de má fé nada podemos esperar, senão a tentativa de desmere er a
grandeza da obra e a sua verdadeira significação na História do Conhecimento. A
propósito, a Revista nos oferece ainda o exemplo das respostas de Kardec aos
agressores do Espiritismo. Já naquela época a situação era a mesma: os
adversários ignoravam o assunto. Kardec lhes mostra com bom senso e firmeza a
fragilidade dos seus argumentos, repele os seus gracejos e as suas ironias em
nome da seriedade dos problemas em causa, convida- os a estudar a Doutrina ou a
se aprofundarem mais nas próprias questões que levantaram,usando às vezes de
energia, porém jamais esquecido da caridade, que foi a bússola constante de sua
vida e de todas as suas atividades.
Há ainda um capítulo importante de Psicologia, que se desenvolve nestes
volumes: o da natureza dos animais e de suas relações com os homens. As
pesquisas psicológicas nesse campo foram bastante intensificadas nos princípios
de nosso século e hoje vão sendo enriquecidas com a contribuição das
investigações parapsicológicas.
Nos Estados Unidos e na Rússia, particularmente os parapsicólogos se
interessam pela verificação das funções psi nos animais. O Espiritismo cuidou
desse problema desde o início, como o atestam os trabalhos e as c omunicações
espirituais a respeito, publicados na Revista. As comunicações do espírito
George, discutidas por Kardec ,analisadas em seus diversos aspectos e
submetidas a debates na Sociedade, e vários fatos referentes à mediunidade nos animais constituem um dos mais curiosos e bem
atualizados capítulos desta coleção, revelando ainda uma vez quanto o Espiritismo
se antecipou aos problemas científicos dos nossos dias.
A era espacial é outra prova dessa atualidade. Kardec a iniciou não só
no plano conceptual, firmando em O livro dos Espíritos o princípio da
pluralidade dos mundos habitados, que Camillo Flammarion posteriormente
desenvolveu,com sua autoridade de astrônomo, num livro com esse título, mas
também deu inicio às pesquisas a respeito. Não se servia de telescópios, mas de
médiuns. Suas sondas espaciais eram as próprias almas humanas e os Espíritos
comunicantes. Veja- se o magnífico desenho da casa de Mozart em Júpiter,
incluído neste primeiro volume da Revista e leia- se a análise sensata de
Kardec . Quem recebeu o desenho foi o famoso autor teatral Victorien
Sardou, médium, que entretanto não sabia desenhar. Mas as comunicações
espíritas sobre os mundos habitados,publicadas na seção Palestra Familiares de
Além- Túmulo, são documentos ainda mais impressionantes.
Até há pouco podia- se rir de tudo isso. Hoje, porém, que os mais
cépticos já admitem, tanto no mundo capitalista quanto no socialista, tanto
entre espiritualistas quanto entre materialistas, a teoria espíritas da
diversidade das formas de vida nos diferentes planetas, e que as próprias
religiões mais contrárias a ela também começam a aceitá- la, é evidente que as
observações de Kardec a respeito assumem novo aspecto. Assinale- se ainda que,
no campo das pesquisas parapsicológicas, renovam- se em nossos dias as
tentativas de comunicaç ão interplanetária por meio do mesmo instrumento usado por Kardec : o
médium, pois as provas científicas da possibilidade de telepatia a distâncias imprevisíveis vieram reforçar a posição espírita nessa
campo.
A História do Espiritismo, ainda não esc ita de maneira sistemática,
apesar de algumas contribuições pioneiras como a de Conan Doyle, revela- nos aspectos
novos nesta coleção. Kardec estabelece as duplas ligações do Espiritismo com o
Cristianismo, de um lado, e com o Druidismo, de outro, e prova que antes das
ocorrências espíritas de Hydesville, nos Estados Unidos, com as irmãs Fox, já se
realizaram sessões espíritas na França, como as de Charles Renard em
Rambouillet, que o levaram a considerar:
- " É de nosso conhecimento que muitas pessoas ocupavam-
se de comunicações espíritas muito antes do aparecimento das mesas girantes, do
que temos provas, com datas certas".
Além disso, Kardec estabelece as relações profundas entre
as religiões primitivas, a Mitologia, as chamadas religiões positivas e o
Espiritismo, num encadeamento histórico que é também um dos capítulos mais
fecundos da Antropologia Cultural, abrindo possibilidades, agora reforçadas
pela Parapsicologia, para a elaboração da Antropologia mediúnica. E há ainda a contribuição espírita para o
esclarecimento dos problemas históricos, não só através das curiosas
comunicações de personagens famosos, como da interpretação palingenésica que o
Espiritismo oferece, renovando as perspectivas da História e da Filosofia da
História.
Por tudo isso, e por muito mais ainda, que o leitor e o estudante
descobrirão por si mesmos, a coleç ão da Revista Espírita se apresenta como
obra indispensável aos homens de cultura de nosso tempo, sejam ou não
espíritas.
Mas particularmente os espíritas, e em especial os que tem
responsabilidade de orientação no movimento doutrinário, não podem olvidar o seu dever de
ler e estudar esta obra com atenção e com amor. E foi por isso que a escolhemos
para iniciar a publicação, pela primeira vez no mundo, das Obras Completas de Allan
Kardec ,que agora apresentamos.
* texto extraído da Revista Espírita de 1858, Editora Edicel. (texto de José Valdir)
*Após
o falecimento de Kardec, o periódico continuou sendo publicada na França, com interrupções apenas entre 1915 e 1917,
devido à Primeira Guerra
Mundial, entre 1940 e 1947,
devido à Segunda Guerra Mundial e entre janeiro de 1977 e maio de 1986 pelo abandono do título. Em 11 de maio de 1989 a Union Spirite Française et Francophone (USFF) - União Espírita Francesa e
Francofônica - obteve o registro oficial da Revue Spirite e reiniciou a sua
edição em conjunto com o Conselho
Espírita Internacional (CEI).
Hoje a Revista Espírita é editada emfrancês, esperanto, espanhol, inglês, polonês e russo.
*Os números publicados durante esses 12 anos
foram traduzidos para o português, e
podem ser encontrados em três edições, uma pelaEditora
IDE - Instituto de Difusão Espírita, em tradução de Salvador
Gentille, outra pela Editora Cultural
Espírita Edicel, em tradução de Júlio Abreu Filho e, a mais recente,
pela Federação
Espírita Brasileira, em tradução de Evandro Noleto Bezerra.
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